31 outubro 2005

Segredo

Nasciam gémeos os nossos risos enlaçados na cumplicidade do mesmo sonho. Hoje, no caminho, restam migalhas desfeitas pelos medos e pedaços de cristal quebrados por cada ausência. Talvez as folhas não tenham ainda morrido, mas da árvore que tentamos ser só a sombra se distingue à superfície duma água turva. Nos outros caminhos, aqueles que vejo agora, pesa-me a falta da tua sombra. Não sei se quero ir porque não sei se sei ser sem ti, mas sei que já não sou aqui. Ainda.


Um dia hei de ter voltado.

28 outubro 2005

Compasso

Desacertamos os passos como ponteiros moribundos de um relógio sem rumo. Os sonhos perderam o brilho e escondem-se agora na angústia de não poder contar o amanhã.

E tu não ouves a minha dança.

27 outubro 2005

Ilusão...

... é olhar para um grão de areia e dizer: em três semanas, se tudo correr bem, estou no cimo desta montanha.

(Porque toda a gente sabe, e muito bem, que uma montanha pode levar anos a escalar)

21 outubro 2005

Nevoeiro

Em branco a folha que deveria encher com o vazio que me sufoca...

Talvez a chuva ajude.

Agora não me apetece falar.

20 outubro 2005

Desnorte

Prolonga-se o fim e o fio invisível que nos devia guiar amarra-nos a coisa alguma. Os gestos doem, como se saídos de velhas almas artríticas enterradas nos escombros do riso. O dia-a-dia mata-nos os sonhos.

Não quero isto.