22 dezembro 2005

Bruma

E é assim

- quando o dia começa a adormecer

enroscado no manto azul ainda sem estrelas

e os sons se perdem na nudez da lua -

que me encosto ao futuro

sorrio

e puxo fiapos de nós

trazidos pela brisa

de um passado a cheirar a livro novo.

11 dezembro 2005

Se me queres...

Sabes, amor?

Não há fadas nem varinhas de condão
que tornem os dias em sonho
não há bússola para a vontade
do que queremos reter
não há estrelas que guiem
o que temos a fazer
há só estas mãos desastradas
que procuram gestos doces
há só o beijo e o desejo
que algumas vezes recuso
há só um fio de olhares
que nos mata a solidão

hei só eu
que sou pouco

e todas as palavras
que pintam amor.

06 dezembro 2005

Retorno

Queria saber
dizer adeus e partir
numa bola de sabão
num barco de papel
ou no canto de um cisne
mas o teu corpo
não se arranca à minha pele
e a esperança que arrasto
como um chinelo velho e desfeito
que se guarda por conforto
faz-me sonhar
ainda.

Talvez
talvez só
um dia seja outra vez de amanhãs
e lendas tecidas de olhares
em passos de cores e espuma.

Nós

02 dezembro 2005

Desilusão a pastel

Sonho vento e sou árvore

prisioneira de raízes

onde não chega o sol

sonho onda e sou porto

corroído por milénios

de partidas adiadas

sonho grito e sou eco

inconstante e incerto

de palavras que não digo

sonho luz e sou cortina

desbotada e inútil

numa casa sem janela

sonho caminho e sou mapa

eternamente emalado

em viagens nunca feitas

sonho nuvem e sou pó

seco miúdo e agreste

num deserto sem oásis

sonho gesto e sou estátua

confinada a projecto

sem olhar e sem palavras

Sonho-te

e és fantasma.

[e isto soa-me a conhecido, mas não sei de quem...]