Bruma
E é assim
- quando o dia começa a adormecer
enroscado no manto azul ainda sem estrelas
e os sons se perdem na nudez da lua -
que me encosto ao futuro
sorrio
e puxo fiapos de nós
trazidos pela brisa
de um passado a cheirar a livro novo.
Passo a passo, sem rumo para lá do fim onde o arco-íris se esconde em dias de nevoeiro. Coisas de uma nómada sedentária e de rugas da memória.
E é assim
- quando o dia começa a adormecer
enroscado no manto azul ainda sem estrelas
e os sons se perdem na nudez da lua -
que me encosto ao futuro
sorrio
e puxo fiapos de nós
trazidos pela brisa
de um passado a cheirar a livro novo.
Sabes, amor?
Não há fadas nem varinhas de condão
que tornem os dias em sonho
não há bússola para a vontade
do que queremos reter
não há estrelas que guiem
o que temos a fazer
há só estas mãos desastradas
que procuram gestos doces
há só o beijo e o desejo
que algumas vezes recuso
há só um fio de olhares
que nos mata a solidão
hei só eu
que sou pouco
e todas as palavras
que pintam amor.
Talvez
talvez só
um dia seja outra vez de amanhãs
e lendas tecidas de olhares
em passos de cores e espuma.
Nós
Sonho vento e sou árvore
prisioneira de raízes
onde não chega o sol
sonho onda e sou porto
corroído por milénios
de partidas adiadas
sonho grito e sou eco
inconstante e incerto
de palavras que não digo
sonho luz e sou cortina
desbotada e inútil
numa casa sem janela
sonho caminho e sou mapa
eternamente emalado
em viagens nunca feitas
sonho nuvem e sou pó
seco miúdo e agreste
num deserto sem oásis
sonho gesto e sou estátua
confinada a projecto
sem olhar e sem palavras
Sonho-te
e és fantasma.
[e isto soa-me a conhecido, mas não sei de quem...]